Psicanálise é um conjunto de teorias e métodos psicológicos baseados no
trabalho pioneiro de Sigmund Freud.
Com seu gênio investigativo, Freud
procurou inicialmente entender a natureza humana, observando suas reações e
atos.
Confirmou a presença determinante do inconsciente nos sonhos e na vida
diária das pessoas, nos seus enganos de linguagem, atos falhos,
esquecimentos de nomes e outros.
O interesse das pessoas em saber mais sobre si mesmas, suas capacidades,
dúvidas, sentimentos, ações, acertos e desencontros consigo e com os outros,
foi fonte de constante investigação.
A busca de liberdade para as
realizações pessoais, princi-palmente nas suas relações afetivas, sempre
inquietou o ser humano.
O desejo de respostas para esses questionamentos é
muito antigo, e estimulou a criação de várias áreas do saber e da cultura:
religião, filosofia, literatura, artes.
Entretanto, um novo modo de compreensão do homem surgiu somente após 1895,
quando o médico vienense, Sigmund Freud, nomeou e estabeleceu o conceito de
inconsciente psíquico com leis e lógicas próprias, acompanhando o lado
consciente do ser humano.
Ao sistematizar essa descoberta fundamental, Freud
criou a Psicanálise. Deu um sentido ou uma racionalidade a fenômenos
estranhos e não explicados até então pela Ciência.
Buscou assim entender
como são expressos os desejos inconscientes, bem como os sentimentos
contraditórios, que criam conflitos por não serem coerentes com os
pensamentos conscientes, por exemplo, como o passado vai perdurar ativamente
no presente das pessoas, e como a ação e os relacionamentos podem ser
afetados por essas variáveis.
Esses elementos seriam determinados não só
pela razão e pelo que é conhecido, mas também pelos processos psíquicos
inconscientes que existem.
Ressaltou o quanto esses processos são parte
importante da vida psíquica, aos quais é necessário dar voz e torná-los cada
vez mais integrados com o consciente.
Freud enfatizou a importância da valorização da singularidade de cada
pessoa, questionando as soluções coletivas contrárias ao desejo de cada um.
Porém, ressaltou a importância do indivíduo em tolerar a restrição dos seus
desejos individuais para serem parcialmente modificados por sentimentos
altruístas, isto é, sentimentos amorosos pelo outro ser humano.
Somente isso
possibilita o estabelecimento de interações interpessoais e grupais
satisfatórias entre as diferentes gerações, na convivência em sociedade, com
reflexos na cultura.
Hoje se reconhece que, ao se permitir ao indivíduo tomar conhecimento desse
fato, possibilitando sua expressão ou não e a busca da compreensão de suas
contradições, ele pode superar as angústias, integrando-se emocionalmente.
Isso facilita as escolhas, as tomadas de decisão, as expressões criativas, e
amplia o campo de ação e de satisfação da pessoa consigo mesma no mundo.
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2. O que é processo psicanalítico?
É o trabalho de investigação dos processos mentais que não são acessíveis de
outra maneira. Acontece numa relação entre duas pessoas que se propõem
trabalhar juntas, o psicanalista e o analisando.
A proposta do profissional, conhecedor das teorias psicanalíticas e tendo
maior conhecimento do próprio inconsciente, resultado da sua longa formação,
é de acom-panhar o analisando, ouvindo-o falar do modo mais livre possível,
numa livre associação de suas idéias.
Essa postura vai favorecer ao analisando recordar e atualizar experiências
emocionais significativas já vividas, mas não suficientemente elaboradas, e
que por isso causam tensões, angústias e dores em sua vida atual.
Quando o analista entende que há sentidos afetivos deslocados no tempo e na
fala do analisando que ressurgem na atualização do tratamento e que escapam
à sua compreensão, ele intervém, falando sobre isso, fazendo sua tradução do
que observou, no intuito de oferecer ao analisando possibilidades de
integrar os sentimentos e pensamentos relacionados à experiência que está
sendo revivida.
Essa é a regra fundamental a ser utilizada cuidadosamente nas situações
psicanalíticas, ela faz surgir e organizar o fenômeno conhecido como relação
transferencial com o analista, que favorece o processo psicanalítico.
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3. A psicanálise trata o sofrimento das
pessoas?
A psicanálise é também um método psicoterápico de tratamento de alterações
psíquicas que causam sofrimento às pessoas, pela impossibilidade delas
integrarem e expressarem mais livremente seus desejos, ou de o fazerem de
modo muito turbulento.
As alterações podem ser expressas de diferentes maneiras, de doenças físicas
a dificuldades relacionais.
O desenrolar do tratamento psicanalítico, que acontece com várias sessões
semanais, durante meses ou anos, favorece a flexibilização ou com a devida
contenção dos processos mentais faz surgir as transformações psíquicas.
O trabalho da análise não é o de restituir o passado, mas sim de
ultrapassá-lo, que é a única forma verdadeira de conservá-lo no seu devido
lugar, para assim permitir aos indivíduos viver mais livremente o presente,
e poder planejar o futuro.
A dimensão terapêutica da análise então se faz presente na vida das pessoas
que podem ser beneficiadas pela psicanálise como tratamento, como teoria
científica, como ética e como maneira de ver e pensar a civilização,
ampliando sua capacidade afetiva e produtiva.
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4. Nos seus 150 anos de existência, a
psicanálise é sempre a mesma?
Desde sua juventude Freud teve a aspiração de contribuir de algum modo para
o conhecimento da humanidade.
Era movido por uma espécie de curiosidade voltada para as questões humanas,
mas não tinha aprendido ainda a impor-tância dos métodos de observação como o
melhor meio de satisfazer essa curiosidade.
Ao priorizar a observação, Freud transformou a psicanálise em um processo
dinâmico, com movimentações sobre bases estabelecidas, às quais acrescentava
novos conhecimentos, sem se desfazer dos já confirmados.
Aqueles que acompanham seu pensamento partilham então de um conjunto de
teorias em que são organizados os dados introduzidos pelo método
psicanalítico de investigação e de tratamento, em permanente expansão, que
acrescenta novos conceitos ao conjunto das teorias já estabelecidas desde
seu início, e o amplia conforme a experiência na clínica direcione sua
investigação e compreensão.
Trata-se então de um conjunto de teorias que orienta e organiza o
conhecimento obtido através da experiência prática, e à qual em retorno ela
inspira criando novas teorias, buscando manter sua aplicação ao conjunto de
fenômenos humanos nos quais o inconsciente está envolvido.
Desde o início, outros criativos psicanalistas colaboraram com idéias
originais para essa ampliação e aplicação. Sandor Ferenczi, Melanie Klein,
Ronald Fairbairn, Wilfred Bion, Herbert Rosenfeld, Jacques Lacan, Donald
Winnicott, Donald Meltzer mantiveram o embasamento freudiano e acrescentaram
conhecimentos que foram importantes do ponto de vista teórico. Inovaram e
enriqueceram a prática psicanalítica, chegando a criar novos conjuntos
teóricos. Atualmente André Green, Thomas H. Ogden, Jean Laplanche e outros
são pensadores que realizam essa tarefa.